sexta-feira, 29 de abril de 2011

Porta



A vegetação oscilava com o vento e a sensação de folhas lhe acariciando e arranhando sutilmente as pernas era extasiante. O céu azul brilhava com tamanha intensamente que lhe cegava a razão jogando seus pensamentos às nuvens que vagavam imaculadas oferecendo o perfeito prazer visual em total plenitude. O bosque, um pouco distante, era sombrio e refrescante, pois a brisa gélida que saia dele, vindo de encontro ao rosto, entrando em contraste ao clima quente era perceptível. E aquela porta no meio deste cenário o leva à liberdade.

A mão toca a madeira densa da porta e sente os mínimos detalhes e entalhes. A madeira bruta e áspera assovia junto ao vento com o som do movimentar descendente do toque que recebe. A porta é arranhada pelas unhas que desejam saber se ela existe realmente. A maçaneta em forma de um retângulo está fria, ignorando o clima.

A vontade pulsante faz a mão envolver na maçaneta com toda força, jogando fora todas as dúvidas que poderia surgir naquele momento de que do outro lado não haveria nada. Nada era uma palavra nem um pouco aceitável no momento. Então inicia-se o ritual: respirar profundamente; prender o ar por um momento nos pulmões; fechar os olhos e puxar a maçaneta.

Um ar pesado de murmúrios enche os ouvidos e os olhos se perdem na imensidão que se encontra do outro lado da porta. Coisas se movem freneticametne e não dão tempo aos olhos se acostumarem e distinguir o que são. Mas com o tempo tudo se torna claro. As palavras se movimentam como vermes e se auto pronunciam. A tentação de ouvir o que elas murmuram é tamanha que um passo é dado à frente. O corpo se mistura às palavras e a porta fecha...

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Conforto e Fim

Eu, com meus noventa anos, sentado em minha poltrona sem sono algum. O cheiro da chuva, molhando a terra durante a noite, entrava pela janela de madeira que possuía aquela bela tonalidade fosca à luz da vela crepitante, perto de mim. Vela que estava quase em seu fim, e resistira contra o ventar noturno que tentava lhe ceifar o direito de brilhar.
Meus pés tocavam o chão que com o frio da noite é gélido e beira o insuportável para meu velho corpo. Então após um tempo, fiquei na poltrona com as pernas dobradas lendo o meu livro e sentindo o calor voltar a tecer meus músculos.
O aroma do chá verde levemente adocicado subindo e se dissipando no ar úmido. A névoa lá fora deixa as árvores mais sombrias com aparência de carrancas desejosas que se movimentavam ao vento. Admiro por um instante os mínimos detalhes da poltrona em que me encontro, confortavelmente, com seu belo tom verde escuro e textura macia, feita por inúmeras linhas cruzadas formando um fractal de quadrados perfeitamente alinhados.
A vela ilumina o livro que tenho em mãos e que leio silenciosamente. Meu silêncio em contraste ao som  da chuva. As palavras que devoro, tornam-se imagens em minha mente e fluem constantemente até perceber que não estou lendo mais e sim vivenciando-as em meu imaginário. Parece tão vivo o que leio que cada palavra é estranhamente palpável.
A minha visão começa a perder o brilho das poucas cores que a vela me permite ver. Ou seria a vela chegando ao seu fim? Os olhos pesando e o corpo abraçando a sono profundo. A luz se extinguindo em seu último fôlego.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Ciclo do Transviver







Thanatos amou a Vida.
Vida caminhou com o Amor.
Amor foi ao abismo para ver Thanatos.
Thanatos envolveu Vida , abraçando-a.
Desse encontro Amor se tornou Fênix.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Limitado



[Limitado... Hoje acordei co]
[m a estranha sensação de es]
[tar preso dentro de colchet]
[es. E que a qualquer moment]
[o eles podem me impedir de ]
[dizer que sei como criar um ]
[mundo que exista paz e lib]


Quando se está com a cabeça demasiadamente cheia não há espaço para nada novo.Contra um muro translúcido me encontro. Um muro de lamentações e limitações.
Me autodestruo em dúvidas e medos estúpidos reconhecendo minha fraqueza.
O limite de minha razão é impulso que a engrenagem que se chama dúvida utiliza para girar.
A partir da dúvida novas possibilidades são criadas em nome da razão que move meu pensar.
Assim avanço e passo o muro de lamentações rumo ao novo horizonte antes intocável, mas a corrente que me prende a este chão se estende, me iludindo novamente.

Sou um homem livre.

Até onde ela, a liberdade, se estender.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Um Pedido


Após um longo dia de trabalho a única coisa que poderia desejar era um bom banho e descanso. Mas iniciado os passos de retorno ao lar e um pedido inesperado surge.
Bem próximo à esquina uma senhora de idade já bem avançada estava sentada e encostada na parede de uma residência lendo um jornal que folheava com o maior cuidado, tendo as pernas estendidas no chão e o olhar despreocupado em um rosto que aparentava ter sofrido e vivenciado muitas coisas. Seu olhar me encontra e após a língua umedecer seus lábios fala de modo ligeiro chamando a minha atenção.
- Por gentileza, poderia me dar sua atenção durante um minuto?
Uma fala inesperada direcionada à mim, um transeunte qualquer. Minha atenção é fixada naquele rosto com um sorriso alegre.
- Sim. Em que posso te ajudar minha senhora?
- Bem, eu tenho casa mas gosto de morar na rua. – Dá uma explicação como se lesse minha mente do porque aquela senhora estar ali. - Poderia lhe pedir algo para comer ou algum dinheiro. Mas eu só quero te pedir uma caneta.
Impulsivamente abri a mochila, retirei uma caneta azul e a entreguei.
- Não dispenso o bom gosto por uma cruzadinha ou uma leitura descompromissada. Lhe agradeço meu jovem.
- Não foi nada.
Sorrisos foram trocados, e a senhora levara sua atenção para suas cruzadinhas.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Página em Branco





Estava deitado na cama desde às vinte e duas horas e o sono não chegava. O relógio fazendo tic-tac na escuridão marcava três horas. Hipnos se esquecera dele, novamente. Seus olhos fechados insistiam em imitar o sono que ali se ausentava. Cansado de tentar dormi, abriu os olhos desanimados que fraquejaram à pouca luz que vinha da luminária solitária na mesa bem próxima à ele, onde estudava durante o dia e em algumas noites escrevia.
O maior incômodo se chama: Insônia!
Logo encontrou nas palavras uma forma de dar vida ao seu desejo de sonhar durante as noites, mesmo que ironicamente, acordado e movendo a caneta preta a riscar o papel no caderno, esboçando um mundo de palavras tortas: um mero sonho disperto.
Ao folhear o caderno sempre se deparava com a primeira página e nem se lembrava há quanto tempo que fazia aquilo: deixar a primeira página de um caderno em branco para que a cosia mais importante fosse escrita ou desenhada ali.
Mas o que de tão importante poderia preencher a primeira página?

segunda-feira, 4 de abril de 2011

HELLO WORLD


"Palavras foram jogadas ao vento
e seguidas por dentes-de-leão
que, de certa forma, buscavam alguma liberdade."

HELLO WORLD!

Grey Gear traz pequenos contos e idéias dispersas no ar para fazer o pensamento se movimentar como uma engrenagem. Espero que gostem das muitas palavras que jogarei ao ar para os dentes-de-leão.