
A vegetação oscilava com o vento e a sensação de folhas lhe acariciando e arranhando sutilmente as pernas era extasiante. O céu azul brilhava com tamanha intensamente que lhe cegava a razão jogando seus pensamentos às nuvens que vagavam imaculadas oferecendo o perfeito prazer visual em total plenitude. O bosque, um pouco distante, era sombrio e refrescante, pois a brisa gélida que saia dele, vindo de encontro ao rosto, entrando em contraste ao clima quente era perceptível. E aquela porta no meio deste cenário o leva à liberdade.
A mão toca a madeira densa da porta e sente os mínimos detalhes e entalhes. A madeira bruta e áspera assovia junto ao vento com o som do movimentar descendente do toque que recebe. A porta é arranhada pelas unhas que desejam saber se ela existe realmente. A maçaneta em forma de um retângulo está fria, ignorando o clima.
A vontade pulsante faz a mão envolver na maçaneta com toda força, jogando fora todas as dúvidas que poderia surgir naquele momento de que do outro lado não haveria nada. Nada era uma palavra nem um pouco aceitável no momento. Então inicia-se o ritual: respirar profundamente; prender o ar por um momento nos pulmões; fechar os olhos e puxar a maçaneta.
Um ar pesado de murmúrios enche os ouvidos e os olhos se perdem na imensidão que se encontra do outro lado da porta. Coisas se movem freneticametne e não dão tempo aos olhos se acostumarem e distinguir o que são. Mas com o tempo tudo se torna claro. As palavras se movimentam como vermes e se auto pronunciam. A tentação de ouvir o que elas murmuram é tamanha que um passo é dado à frente. O corpo se mistura às palavras e a porta fecha...