Mais uma noite com pesadelos.
Maero o visitou a noite toda e o fez sentir coisas que desejava esquecer (mero ato repulsivo, covarde e egoísta). A cada vez que acordava, se é que dormira realmente em algum momento, se desanimava enormemente de voltar a tentar dormir, pois já sabia o que iria acontecer (maldito ciclo de vão escapismo). E acontecia o óbvio e previsível: velhos tormentos, visões de novos futuros erros.
Após uma noite inteira assim, acorda com a luz rejeitando o sono. Sem mais poder dormir vai ao banheiro, lava o rosto. Buscar Narciso... ele está de férias. Sua cabeça pesa mais que o esforço de se manter são. Sua visão vai ao chão, que é o único lugar que o aguarda com toda a ávida certeza. Contempla por um momento uma abelha no chão de cerâmica negra, do outro lado do banheiro.
Incapacitada de voar devido a irritante água que a umedeceu.
A pegou cuidadosamente, um simples/complexo ato de desespero para salvar a si mesmo na tentativa de purificar a alma salvando algo do fim iminente. Voltou para o quarto e a colocou na beirada da janela onde o sol da manhã aquecia o corpo de homem e abelha. Um homem de alma fria e uma abelha com desejo ardente pela vida. A colocou naquela beirada da janela para que ambos pudessem se aquecer e esquecer os problemas e angustias, momentaneamente.
O medo devorava a tudo: a ambos os seres; o medo era devorado pelo calor do sol matutino; a angustia se autodevorava. Todos estavam jogados no ciclo de autodestruição onde esperança era apenas o calor do sol daquela manhã que daria espaço para uma tarde, não muito quente, e uma noite de possível companhia de Maero novamente.
O tempo passou, a abelha voou, o homem ficou.
Pobre alma. Destruída pelo próprio medo de fazer o certo ou o errado e sempre se defrontar consigo mesma diante um espelho de verdade. A abelha foi embora viva, mas levou consigo aquele que pensava ser um homem, deixou um garoto para que crescesse novamente.
Ah! Queria eu ser o Icarus a dizer que não cairá jamais.